Hipnose Clínica

Ainda há tabus e equívocos em relação à Hipnose Clínica em Portugal e no mundo, felizmente os resultados falam por si e, aos poucos, desmistifica-se todos estes equívocos sobre este método terapêutico, que tem a grande potencialidade de realizar curas, melhorar sintomas em casos de alta complexidade clínica ou trabalhar algumas emoções negativas provenientes de experiências passadas, que possam estar a contribuir para conflitos nos processos relacionais.
Nas últimas décadas ocorreu um avanço da sua expansão e foi reintroduzida gradativamente como disciplina científica e utilizada através de um outro prisma, com mais rigor científico e operacional, reaproximando-se da medicina, pois além de todas as suas funções a nível terapêutico, também pode ser utlizada para promover efeito anestésico em procedimentos cirúrgicos quando, por motivos médicos ou outros, algumas pessoas não podem utilizar as anestesias convencionais.
A Hipnose Clínica é uma intervenção clínica e séria, realizada através do recurso do transe hipnótico, que é um estado alterado de consciência, no qual ocorrem alterações positivas nas ondas cerebrais (no momento do transe), as quais, consequentemente, provocam um profundo estado de bem-estar e relaxamento, e deixa a mente mais suscetível para receber sugestões. É um estado intermediário entre a vigília e o sono, que provoca uma atenção focada, não inconsciente. Uma pessoa em transe não fica inconsciente.
Estudos mostram que normalmente, uma pessoa entra em transe de forma natural e espontânea aproximadamente a cada 90 minutos.
EM QUE CASOS É ÚTIL?
A Hipnose Clínica é uma importante intervenção clínica praticada por médicos, psicólogos, enfermeiros, psicopedagogos, entre outros com habilitação específica para realizar a técnica. Ressalto que a escolha do profissional é importante para o resultado do trabalho. É importante considerar quais são as suas habilitações profissionais, tempo de formação e aquilo que o profissional envolve no seu contexto terapêutico. Também é essencial a empatia estabelecida com o profissional, porque quando não ocorre empatia e credibilidade no profissional que fará a assistência terapêutica, parte do processo e dos resultados podem ser prejudicados.
A Hipnose Clínica é recomendada em casos de:
• Ansiedade;
• Síndrome do Pânico;
• Depressão;
• Medos e fobias;
• Timidez e fobia social;
• Traumas;
• Crises de autoestima, inseguranças, ciúmes;
• Dificuldade de se relacionar, conflitos nas relações;
• Insónias;
• Perturbação obsessivo-compulsiva;
• Emoções negativas em excesso e disfuncionais que estão a interferir negativamente nos processos relacionais, permitindo relações mais equilibradas e uma vida mais feliz.
Em consultório, nós, profissionais que trabalhamos com a Hipnose Clínica, após uma minuciosa anamnese (investigação clínica) que nos permite ter acesso a informações importantes sobre os sintomas do paciente, acontecimentos vivenciados e história de vida e familiar, e munidos do conhecimento sobre a neurofisiologia das emoções e instrumentos do vasto arsenal da psicologia, e um plano terapêutico previamente definido, utilizamos o transe como um importante recurso de comprovada eficácia para a melhoria clínica do paciente. Através do transe (que ativa algumas regiões cerebrais e diminui a atividade de outras enquanto acontece), damos sugestões eficazes para:
• A recuperação terapêutica;
• Ressignificar algumas emoções menos saudáveis;
• Tratar traumas vividos e, consequentemente, levar o paciente a ter emoções mais positivas, podendo também curar os sintomas subjacentes apresentados.
O transe – segundo estudos, trata-se de um estado no qual os hemisférios cerebrais atingem um estado diferenciado e com uma excelente comunicação entre si, facilitando a comunicação e troca do material simbólico entre o consciente, subconsciente e o inconsciente – é um estado para promover excelentes resultados terapêuticos, pois torna a mente um ambiente profícuo para receber sugestões. Em analogia, faz com que a mente se torne um solo fértil para semear sementes de emoções positivas e tratar as ervas daninhas (que são as dores traumáticas, emoções menos saudáveis e em desequilíbrio) que estavam a deixar a plantação da mente menos saudável ou até a apresentar sintomas emocionais ou com repercussão física, como nos ataques de pânico, por exemplo.
Quanto à suscetibilidade da hipnose, um estudo realizado por Carvalho (2006), refere que 90% da população portuguesa é passível de ser hipnotizada. No entanto, alguns problemas psíquicos dificultam e contraindicam a hipnose, como loboto- mizados no córtex pré-frontal, os portadores de doença de Alzheimer e algumas doenças neurodegenerativas, os bipolares em fase de mania, grande parte dos psicopatas, e os portadores de síndrome de Down
É importante esclarecer alguns tabus:
• Hipnose não é magia; é um procedimento que promove um estado momentâneo e alterado de consciência. Este estado é provocado intencionalmente por um profissional com conheci- mento sobre o funcionamento da mente humana e com objetivos terapêuticos previamente definidos.
• A pessoa em transe não fica presa a este estado. Desperta sempre (se o profissional interromper o processo ou sair de perto do paciente sem avisar, automaticamente, a pessoa desperta).
• Hipnose não é sono; é um estado intermediário entre o sono e estar acordado (registos de eletroencefalograma (EEG) provam que este estado é distinto do estado de sono).
• A pessoa não perde a consciência quando está em transe (ela continua protegida pelo seu consciente) e em qualquer possibilidade de perigo ou burla, automaticamente, ela desperta.
• Hipnose e regressão não são a mesma coisa. A regressão é uma técnica utilizada dentro da hipnose que pode levar a momentos vividos no passado.
• Não há perigo na utilização da hipnose. É um procedimento eficaz e seguro, com forte eficácia terapêutica e grande potencialidade para promover a melhora clínica ou a cura em muitos ca- sos. No entanto, deve ser realizada por um profissional com qualificação adequada, que tenha conhecimentos científicos e que possua prática e habilidade profissional para trabalhar com saúde mental. Se aplicada por uma pessoa má intencionada ou com qualificação inadequada pode produzir efeitos contrários a saúde mental.
Se está a passar por um momento difícil, se precisa de ajuda terapêutica, não tenha medo de recorrer à hipnose. A Hipnose Clínica é muito mais do que uma terapia. É uma experiência que contribui para a cura da mente e da alma, e que permite a expansão da consciência.
Texto de Reliane de Carvalho
Hipnoterapeuta, Mestra em Emoções pelo ISCTE-IUL
Autora dos livros Menina dos olhos da alma e A luz dos meus olhos – Uma viagem interior